Autora: Karin de Pecsi e Fusaro
Orientador: Leonardo Cavalcanti da Silva
Instituição: Universidade de Brasília / ELA
Ano de conclusão: 2019

RESUMO: O tema deste trabalho é “infância e refúgio”, a partir de uma perspectiva Sul-Sul das migrações internacionais, especificamente do fluxo de refugiados da Síria para o Brasil. Parto da premissa de que as crianças desempenham um papel central no projeto migratório familiar. Ainda que não tenham espaço para escolhas no país de origem (onde ir, quando, etc), meninos e meninas são atores-chave na inserção sociocultural da família ao país de acolhida. A facilidade de alguns em aprender o português parece ser uma possibilidade fundamental de agência, o que os torna mediadores entre seu núcleo familiar e a nova sociedade. Com viés etnográfico, esta pesquisa foi feita com as crianças, e não a partir delas, reconhecendo sua capacidade de falar por si. No Brasil, a produção de conhecimento científico neste tema ainda é muito incipiente, em contraste com os materiais de campo elaborados por organizações não governamentais (ONGs) e agências humanitárias. Portanto, esta pesquisa é uma contribuição à reflexão das categorias que envolvem esta criança obrigada a se deslocar. Primeiro, apresento o debate sobre uma nova configuração de família industrial moderna e infância no Ocidente, além de reflexões sobre a infância nas sociedades árabes, na América Latina e no Brasil. Depois, contextualizo a imigração histórica de sírios para o Brasil e o fluxo de refugiados do conflito iniciado em 2011. Ao descrever os resultados de campo, reflito sobre os quatro principais espaços sociais onde a agência das crianças sírias se faz notar. A escola é onde elas têm o contato mais forte com o idioma, refazem laços e vinculam-se à nova comunidade. A instituição também as insere nos debates políticos e sociais atuais, incentivando-as a refletirem sobre seus direitos. A família é espaço de proteção e também conflitos, associados mais à situação de refúgio do que às diferenças entre gerações. Também foi possível perceber a preocupação dos adultos em deixar a Síria para proteger a infância dos filhos. O domínio do idioma pela criança é estratégico na integração de toda a família. Porém, este protagonismo é vivenciado de modo ambivalente. Se, por um lado, a criança conquista uma posição de destaque, por outro, sente este papel como um “peso”, uma “grande responsabilidade”, como algumas relataram. Por fim, as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) permitem a conexão em tempo real com o país de origem, o que faz a criança refugiada reconfigurar sua identidade continuamente.